O homem é um animal político — Aristóteles

janeiro 05, 2011

*A CULTURA, A ARTE E A POLÍTICA CULTURAL*



Nas chamadas políticas culturais emergenciais, na maioria das vezes, são discursos onde a cultura não passa de uma fantasia, uma miragem no fim do túnel. Como ela não é assunto prioritário, foi transferida para a iniciativa privada. Os investimentos visam retornos, fala-se em números, percentuais,nas leis de renúncia fiscal, sem uma idéia clara de cultura e seu papel na sociedade. Todo mundo se acha no direito de opinar, o patrocinador, o empresário, o político, o produtor cultural, o professor universitário, o curador etc. menos o artista e os que trabalham diretamente com as práticas artísticas, os operários da linguagem.


Depois da descoberta tardia que a cultura não se restringe às linguagens artísticas, as práticas acionadoras do pensamento crítico passaram a ser vistas com desconfiança, "coisas de elite", foram marginalizada e o entretenimento passou a ser o centro do financiamento público. A festa passou a ser o alvo dos investimentos públicos e privados em detrimento da cultura pensamento.



O que deveria ser uma política pública de cultura? Uma pergunta oportuna em momentos de transição política, quando as reivindicações reaparecem e as disputas por cargos públicos emergem. Antes de ser um problema de economia, de leis de incentivo, de política partidária, a cultura é um dispositivo da cidadania, um direito básico que deve fazer parte da formação do sujeito. "A cultura é coisa do homem que mora num certo lugar e num certo tempo"  (Gerardo Mello Mourão). Portanto, antes de falar dos reduzidos recursos econômicos
destinados à área cultural, é estratégico se pensar em intervir culturalmente no modelo de desenvolvimento que afeta  o meio ambiente, as
condições materiais, sociais e culturais de uma comunidade.


Uma política de cultura deve primeiramente levar em conta o quanto ela contribui para o imaginário das pessoas, tornando-as capazes de assumir decisões nas suas vidas. Que ela é uma forma de relacionamento com o mundo e seu cotidiano, antes de ser uma mercadoria e um objeto da política. Relegada à condição de entretenimento, passou a fazer parte das diversões, regida pela economia da cultura. E tudo que faz a economia crescer, que gera emprego e renda é ético nesta sociedade onde o emprego é cada vez mais
difícil. Mas a ética e lógica da cultura é outra. Se a diversão faz a economia crescer, atende a demanda de habitantes, e turistas carentes de
lazer, poucas vezes contribui para o aumento e transformação do repertório.



O homem vive entre a natureza e a cultura. E a cultura é uma construção do homem. Um trabalho. Resultado de um longo caminho. Cada cidade, estado ou região tem uma cultura que lhe é própria e múltipla. Uma política de cultura deve garantir a liberdade das diversas manifestações, sem qualquer interferência, e transferir as decisões para quem faz cultura, quem conhece as particularidades das linguagens, quem diretamente lida com o patrimônio material e imaterial que faz o acervo de uma cultura.


E quando se fala de artes, produtos diversificados e delicados e ao mesmo tempo conhecimentos específicos que fazem parte de uma cultura, o político, o produtor ou o atravessador deve ser substituído pelo técnico ou o especialista do metié. E uma instituição que trabalha com as artes tem como princípio estimular a liberdade de expressão e não servir com extensão de outras políticas ou de outras instituições.

*Almandrade *

*(artista plástico, poeta, arquiteto e presidente da Associação de Artistas Visuais da Bahia)*

----------------------------------------------------------------------------------------
The Culture, Arts and Cultural Policy

What should be a public policy for culture? A timely question in times of political transition, reappear when claims and disputes emerge for
public office. Before becoming a matter of economics, legal incentives, party politics, culture is a device of citizenship, a basic right that should be part of subject. . "Culture is a thing of the man who lives in a certain place and at a certain time" (Gerardo Mello Mourão). So, before talking on reducing economic resources for the cultural area, is strategic thinking in cultural intervention in the development model that affects the environment, the material, social and cultural conditions of community.

A political culture must first take into account how much it contributes to people's imagination, making them capable of taking decisions in their lives. That it is a form of relationship with the world and their daily lives, rather than being a commodity and an
object of politics. Positioned as entertainment, has become part of the fun, governed by the economics of culture. And everything that
makes the economy grow, which generates jobs and income is ethical in this society where employment is increasingly difficult. But ethics
and logic of culture is something else. If the play makes the economy grow, meeting the demand of residents and tourists in need of recreation, rarely contributes to the growth and transformation of the repertoire.

Man lives between nature and culture. And culture is a building of man. A job. It’s a result of a long way. Each city, state or region has a culture of its own and multiple. A political culture must guarantee freedom of the various manifestations, without any interference, and transfer decisions for those who make culture, who knows the peculiarities of the languages, who deals directly with the
material and immaterial heritage that makes the body of a culture.

And when it comes to art, delicate and diversified products and at the same time, specific knowledge that are part of a culture, the politicians, the producer or the cultural merchant should be replaced by technical or a expertise of that area. And an institution that works with the arts is to stimulate the principle freedom of expression and not serve as extension of other policies or other
institutions.

Almandrade


ALMANDRADE is the owner of a style in which minimalism is the guide of his aesthetics, and he works on the poem like someone who lapidates a diamond. He is one of the creators of the Group of Language Studies in Bahia which edited the magazine Semiótica in 1974.

Nenhum comentário:

Postar um comentário