O homem é um animal político — Aristóteles

dezembro 03, 2010

Estudar pra quê, abestado?
 
“Estudar pra quê?”, pergunta o aluno. O professor teria uma porção de respostas, dentre as quais, “estudamos para nosso enriquecimento intelectual e cultural”. Logicamente, essa resposta seria motivo de riso, afinal, o aluno vive muito bem apenas escutando música, assistindo à TV ou grudado no computador.
O professor opta, então, por uma resposta mais pragmática: “estudamos para ter lugar no mercado de trabalho e, quanto mais estudo, melhores as chances salariais.” No entanto, nem com essa resposta o mestre escapa do riso debochado (sim, não há mais respeito com o professor na sala de aula). O aluno já tem várias respostas na ponta da língua: “minha mãe só tem primeiro grau e está ganhando, como faxineira, igual ao salário do senhor”; “mas professor, olha quanto ganha um jogador de futebol que fala a gente jogamos”; “e o Tiririca, então, fez um testezinho para mostrar que sabe mais ou menos ler e escrever e foi eleito deputado federal!”
Pois é, o Tiririca. Um dos grandes artistas do humor surgidos nos últimos tempos no país. Quantos de nós já não demos umas boas risadas com esse palhaço. Agora, no entanto, quem está rindo é ele e o partido que o colocou na disputa eleitoral para eleger de carona mais uma porção de políticos. Rindo de nós, os abestados. Não digo que ele não pudesse concorrer por ser um palhaço, mas pela maneira como ocorreu o processo todo. Segundo a revista Época, em reportagem antes das eleições, havia indícios muito fortes de que o Tiririca não sabia ler nem escrever, requisitos, pasmem, mínimos para ser deputado. Qualquer emprego hoje não exige pelo menos um diploma de ensino fundamental?
Depois da acusação bem documentada pela revista, criou-se toda a polêmica. Mas na semana passada, mais de um mês depois da denúncia, foi submetido a um pequeno teste de leitura e escrita e passou. Segundo o juiz que aplicou a prova, o deputado pode assumir sem problemas.
Mas há uma coisa que ainda precisa ser esclarecida. Por não ter registro escolar para comprovar sua escolaridade e estar apto para concorrer a deputado, o palhaço escreveu um documento, supostamente de próprio punho, com letra bem legível e sem erros gramaticais, afirmando ser alfabetizado. Comparada com seus autógrafos, a letra é bem diferente, assim como a assinatura. Se a declaração é falsa, o candidato eleito agiu de má-fé e, por conseguinte, deveria responder por falsidade ideológica. Ou seja, já começou muito mal sua vida política. Se concordarmos com isso, estaremos indo contra a educação pela qual tanto lutamos.
Voltando à pergunta inicial: estudar pra quê? Talvez influenciado pela filosofia, gosto de responder uma pergunta com outra pergunta: e por que não estudar? A resposta óbvia do aluno é: por que é chato! Pergunto de novo: e por que é chato? Resposta: porque não vou usar nada disso na minha vida. Nesse caso, apenas digo: Cronus, o deus do tempo, vai dizer daqui a alguns anos, quem está com a razão.

Cassionei Niches Petry/Professor
cassio.nei@hotmail.com

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